O Sabor da Vida no sucesso das pessoas


Corriqueiramente, ao assistir as ações de indivíduos no cotidiano, é possível, no mínimo, inferir delas uma intenção em obter algum resultado. De modo geral, de uma conversa simples, uma pesquisa científica até a abertura de uma empresa, as pessoas tomam iniciativa com o propósito de obter, após a sua concretização, um resultado capaz de satisfazer às expectativas anteriores à ela. A cada expectativa bem atendida dá-se o nome de sucesso. O fim último em todas as ações, das menores às maiores, ainda que não pareça à primeira vista, é o sucesso, o êxito.

– Olá, meu querido. Vamos para o mesmo lugar de sempre. – pergunta a passageira ao motorista.

As relações humanas são uma grande rede de intencionalidade em busca de um êxito. Quando Dona Maria, a passageira, cumprimenta Ernesto, o motorista, a sua intenção é ser amistosa. A expectativa é, ao cumprimenta-lo, obter uma resposta da mesma magnitude. O sucesso da comunicação está não apenas na intenção do cumprimento de Dona Maria, mas da resposta de quem o cumprimento se dirigiu, a de Ernesto. Se por acaso Ernesto não responder amigavelmente, o diálogo não atingirá seu êxito e Dona Maria terá sua expectativa frustrada. Caso responda com o mesmo sentimento de amizade, Dona Maria conseguirá atingir com Ernesto um nível de amistosidade desejável.

– Dona Maria! Você por aqui! Claro, sente-se e vamos conversando. – retruca Ernesto e atende assim as expectativas de Dona Maria.

Momentos depois, num consultório médico dentro de um centro de pesquisa, num lugar distante de onde o ônibus Dona Maria costuma passar, entra um paciente.

– E aí, rapaz. O que te acomete? – Pergunta o médico.

– Pois é, Doutor. É difícil viver com isso. Não sei mais o que vou fazer. Era bombeiro e quando fui prestar socorro a um mendigo, me vi na necessidade de fazer procedimento cirúrgico emergencial nele ainda na rua. O cara estava bêbado e sujo, acabou que fez um movimento brusco e me feriu com a agulha que tinha sangue dele. Quando fiz o exame, foi detectada a doença. – Explica o paciente emocionado sobre seu quadro.

– Olha, amigo, simpatizo com sua causa. Sei o quanto é difícil estar nessa situação. Não tenho palavras. Você aceita um copo com água? – Pergunta o Doutor, sensibilizado.

– Aceito, Doutor. Quando soube que você é um pesquisador na área, eu vim diretamente a você. – Justifica o paciente.

A satisfação pessoal, ainda que íntima, tem uma elemento fora dela. Guilherme, o médico, doutor, cientista, é um ávido pesquisador do vírus da AIDS, doença que acomete Juscelino, o paciente, o bombeiro. Guilherme tem na finalidade de descobrir a cura da doença, a sua satisfação pessoal, por conta do desafio e curiosidade que sente. O grau de sucesso de sua inciativa só poderá ser comprovada quando for colocada e testada no público aidético. Ainda que sua intenção seja estritamente pessoal  a descoberta da cura –, para saber se o sucesso será atingido, Guilherme não só deverá investigar e comprovar teoricamente, mas sim ter êxito na aplicação dos testes em Juscelino. Só quando Juscelino for curado, a satisfação pessoal de Guilherme será atendida e o sucesso comprovado. Há um elemento legitimador do grau de êxito da pesquisa de Guilherme: a cura real e absoluta da doença do Juscelino.

Milhas distantes do sala de um consultório médico, entra um cliente no estabelecimento comercial de um empreendedor.

– Quanto é esse, seu Joaquim? – Pergunta o cliente.

– Esse é R$ 2,50, meu caro. – Responde o empreendedor.

Ao criar uma empresa, um empreendedor sonha com o sucesso rotineiro dela. Seu Joaquim, o empreendedor em questão, sempre sonhou em poder construir um estabelecimento comercial no seu bairro popular a preços acessíveis. E ele conseguiu. As pessoas gostaram da ideia e agora frequentam sempre que podem o estabelecimento do seu Joaquim para não perder a promoção do dia. Após provarem do doce da empresa do Seu Joaquim, muitos estampam a realização no rosto por achar algo tão bom a um preço tão acessível. O Seu Joaquim, feliz abre, em igual sentimento, o sorriso de realização. Conseguiu além de prestar o serviço, satisfazer o cliente e obter além do benefício emocional também o financeiro. Grande Seu Joaquim!

Seu estabelecimento comercial é frequentado também pela Dona Maria, que toda vez antes de pegar o ônibus e cumprimentar alegremente o Ernesto, experimenta um pouco das delícias lá estampadas à sua disposição. É na prateleira do estabelecimento do Seu Joaquim onde Dona Maria saboreia seus doces antes de ir à casa de sua filha cuidar da sua netinha, já que sempre quando a filha precisa trabalhar por um tempo maior fora de casa, pede a mãe para cuidar da criança na sua ausência.

Foi lá, no empreendimento do Seu Joaquim, que Juscelino recebeu das mãos de Guilherme o resultado dos exames dos testes realizados para combater a sua doença, a AIDS.

– Você mora longe, hem! Aqui está o seu resultado, meu amigo. Nem eu sei o que deu nele. Estou nervoso. Igual a você. – explica Guilherme.

Juscelino abre o envelope.

– É incrível, Doutor! Obrigado, obrigado. – Juscelino chora emocionado ao descobrir o resultado.

Juscelino chorou por receber a notícia de que não mais possuía a AIDS. Guilherme, então, abriu o sorriso feliz de realização ao, ver na felicidade emocionante de Juscelino, o sucesso da inciativa esperançosa desse bombeiro em se submeter aos testes. Mas também sentiu, diga-se de passagem, o êxito em sua realização pessoal: venceu os obstáculos d’uma pesquisa tão difícil.

Em seu estabelecimento comercial, seu Joaquim, duas semanas depois, numa sexta-feira à noite, ligou a televisão e colocou no Jornal Nacional, o maior noticiário do país, para se atualizar sobre os principais acontecimentos no país. Passados alguns minutos, ouviu:

– O cientista Guilherme da Silva, brasileiro, morador de Salvador, será agraciado com o prêmio Nobel de Medicina pelo que a instituição denominou de “contribuições para a imunologia pela compreensão e diagnóstico absoluto do vírus autoimune da AIDS”. Esse é o primeiro brasileiro a ser agraciado com essa titulação. Um marco para o país. Em carta oficial, o presidente Campo Neves elogiou o que chamou de "marco na história da nação". – Declara William Bonner.

– Estou muito contente em com essa realização. Por anos batalhei para entende-la e agora, após pesquisas e pesquisas, consegui finalmente vencer esse desafio. – Explica o cientista com um sorriso contente no rosto.

– Durante a fase de pesquisas, a primeira pessoa a apresentar o sinal de cura da AIDS preferiu não ser identificada. – Ressalta Bonner.

Era justamente esta a pessoa que estava assistindo no seu estabelecimento de seu Joaquim a notícia do título recebido por Guilherme: o bombeiro Juscelino. Seu Joaquim, sem saber que era Juscelino a pessoa curada, fez um rosto de surpresa, levantando os olhos e a sobrancelha e torcendo a boca em sua direção. Assistiam também a notícia, no mesmo dia, Dona Maria, que levou sua netinha para provar uma das especiarias de lá, e o saudoso Ernesto, que após um final de turno de sucesso em seu ônibus, foi lá também provar do mesmo que a neta de Dona Maria prova.

– Que notícia hein, Dona Maria! – fala Ernesto surpreendido.

– É, meu filho. Essa tal de medicina não tem limites mesmo. É cada coisa que vou te contar, viu. – Diz Dona Maria impressionada.

– Pois é, Dona Maria! E quem é a pessoa? Ela nem se identificou, né!? – Diz Ernesto em tom de curiosidade.

– Ó, meu filho, seja quem for, que Deus a abençoe. Tem uma vida pela frente com mais saúde. – Retruca Dona Maria a Ernesto.

– Realmente, um sortudo. Mas parabéns ao médico também, né? O cara se matou em pesquisas e agora descobriu, depois de anos testando. Chega respirou aliviado na matéria do Jornal Nacional– Responde Juscelino sobre si e o médico para Dona Maria ao ouvir dela o comentário na mesa que estava ao seu lado.

– Meu doce... O importante agora é balançar o edredom sem medo de ser feliz! – Brinca Dona Maria. Todos riem, menos sua Neta, pois do foi dito, não sabia fazer nenhuma associação devido a sua inocência.

Contente, Juscelino, antes de voltar ao local, ligou para Guilherme para o dar os parabéns.

– Fala, cara! Parabéns! Acabei de te ver no Jornal Nacional. Tá famoso, hem, velho!? – Exclama Juscelino.

– Isso aí, Djucê! Finalmente viu! Já estava pensando em desistir! E venha cá, você tem o paradeiro do mendigo? Precisamos ajuda-lo. – Agradece Guilherme e responde preocupado sobre o mendigo que tinha AIDS. 

– Tenho sim. Alguns amigos quando me visitaram foram muito solidários comigo. Pedi também atenção ao pobre rapaz que causou esse trágico acidente. Ele está em um asilo. – Responde Juscelino.

– Onde pego vocês? – Pergunta Guilherme?

– Nos pegue no mesmo lugar que recebi o resultado de você – Responde Juscelino

– Beleza! – Concorda Guilherme.

Enquanto isso, o seu Joaquim assistia a um espetáculo de sorrisos de pessoas conhecidas provando o mesmo doce que Dona Maria rotineiramente prova antes das suas idas a casa de sua filha, que Ernesto prova ao final de suas viagens bem sucedidas e que Juscelino um dia provou quando estava doente. Seu Joaquim não sabe do êxito da Dona Maria ao cuidar de Dona Maria e de se comunicar diariamente com Ernesto, nem talvez da capacidade deste motorista em fazer as suas viagens no prazo, nem muito menos tem ideia que a pessoa agraciada pelo resultado bem sucedido do cientista Guilherme estava ali, comendo do seu doce. É da alegria e do sucesso das pessoas que a sorveteria de seu Joaquim vive, tal qual, é da mesma substância pela qual elas vivem que seu Joaquim criou a sorveteria. E ao contrário das incertezas que sequer faz ideia da sua existência, sabe apenas de algo: eles estão alegres provando o doce na sorveteria O Sabor da Vida. 

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