Crédito: globoesporte.com |
O preço que se paga pela
ausência de algo é maior do que a virtude de apreciar a sua presença. Imagine
quando se percebe a ausência de vida, em vida, e o preço que se paga pelo tempo
que não volta, o tempo jogado fora. E como o tempo não pode voltar, parece
lógico a expressão “correr atrás do
tempo”. Mas não é. O tempo que se perde não se recupera e o que se corre
pra recuperar, se antes corresse quando não o havia perdido, no momento que reconhecesse
a necessidade de correr, já se estaria muito mais distante. Melhor do que correr atrás do tempo é correr ao lado do tempo. O tempo é indiferente.
Não há nada tão justo quanto o tempo. O tempo chega a todos e ninguém muda o
tempo. Ele é o que é e nada há o que se fazer ou falar sobre isso, apenas aceitar
que ele não se controla, vivendo em função de administrá-lo e não modifica-lo.
- Você precisa fazer algo! Sua
situação é preocupante.
Disse o Dr. Joaquim (que
descanse em paz) naquele dia. Já naquele tempo eu não aguentava dentro de mim o
erro da alimentação. Não fazia sentido estar daquele jeito. Aonde estava era
resultado de minhas escolhas. Depois de um receituário previsto, sabia que algo
precisava ser feito. Mas antes era necessário ter consciência da origem do
problema que enfrentava. O Dr. Joaquim expressou a indignação com as
consequências, tratou os sintomas, mas só eu seria capaz de saber as causas. Eu
me habito, afinal de contas.
Da superação do desleixo e da
preguiça, eu fui correr – e na corrida encontrei a resposta. Com o suor no
rosto, completei míseros um quilômetro. Foi de dar vergonha. Voltei andando o
quilometro que corri, mas a determinação era grande e no outro dia eu corri um quilômetro
e 100 metros, no outro dia mais 200, depois 300, até que hoje cheguei a 10 km.
Dia após dia, continuei correndo, continuei progredindo. Já estava correndo
dois quilômetros em menos de 3 meses.
O tempo não era nem importante, era necessário correr apenas. Eu tinha que correr! Eu ia encontrar o ritmo em algum momento. Só importava dar o passo e depois continuar com a passada. Até que passada após passada eu fui encontrando o ritmo – cada vez que mais próximo do ritmo chegava, mais capaz de ser veloz eu estava e mais veloz eu corria. E fui correndo. Do lado de cá a alimentação ótima, do outro os passos iam se acertando. Na medida que iam acertando os passos, a vida ia se acertando na velocidade da corrida.
O tempo não era nem importante, era necessário correr apenas. Eu tinha que correr! Eu ia encontrar o ritmo em algum momento. Só importava dar o passo e depois continuar com a passada. Até que passada após passada eu fui encontrando o ritmo – cada vez que mais próximo do ritmo chegava, mais capaz de ser veloz eu estava e mais veloz eu corria. E fui correndo. Do lado de cá a alimentação ótima, do outro os passos iam se acertando. Na medida que iam acertando os passos, a vida ia se acertando na velocidade da corrida.
Dia e noite, noite e dia,
passava eu pelo mesmo percurso. Quando noite, o espetáculo monótono das luzes
dos postes refletiam sobre o meu rosto e a listra da pista pintada de branco me
hipnotizava com sua teimosia repetitiva; quando dia o vento e o sol no rosto davam
a consciência de que corria em direção a luz.
Os passos, um após o outro, me
faziam apenas perder a consciência de tudo ao redor, só a corrida importava. A
corrida pela corrida. Um prazer em si mesmo. A morada do meu interior se
encontrava nos 150 batimentos cardíacos por minuto e a respiração ofegante que
seguia só me deixava mais centrado – olhava pra onde queria chegar e sabia que
em certos momentos não haveria uma outra alternativa para chegar onde desejava
que não fosse só coração e pulmão.
Depois de calejado com a
teimosa repetitividade da corrida, o corpo obedecia a mente, a minha motivação
me movia até o fim da linha. O cansaço que chegava dava a certeza que para
continuar era necessário coração, garra.
Às vezes você só tem o seu pulmão e seu coração pra seguir em frente, e mais
nada.
Aprendi a me ver correndo. Aquilo
me dava uma sensação de introspecção. Sentir meu pulmão funcionando, a estrada
meticulosamente se repetindo, o olhar focado, a motivação, a finalidade por
estar correndo me fizeram tornar a corrida um ritual muito além da própria
corrida.
Quando eu termino uma corrida
eu me sinto diferente, eu sinto como se eu tivesse me vencido em algum aspecto.
Não corri contra ninguém. Apenas corri. E correndo fui vencendo as barreiras,
passo a passo.
Aprendi que atingir a linha de
chegada não se dá apenas com um passo, mas com vários, no ritmo correto – que se
acha no caminho. Mas tenho a certeza que basta um passo frente para estar um
passo a menos da linha de chegada.
E toda vez que eu me pego em
uma frustração, toda vez que encaro uma possível encruzilhada, eu corro. Não
corro da situação, da frustração. Eu corro pra saber que a jornada é uma
corrida, de vários passos. Que eu preciso continuar passada após passada e que
não posso deixar meu pulmão falhar, meu coração falhar, eu mantenho minha força
na mente, nos meus sonhos.
Corro no ritmo dos passos e na
paciência da passada vou me achando no meio da jornada. O trajeto ensina. Sou
eu quem corro.
Mas quando eu sempre fecho os
olhos na corrida eu vejo meu pai do meu lado: vai, filho! Vai cara! Você
consegue! Não para! Força! Mantém o ritmo!
Eu fecho os olhos de novo e
vejo minha mãe: você vai conseguir! A vejo estender a mão e falar: toma essa água, filho. É a água na
garrafa que estou bebendo e que ela fez questão de encher pra mim com todo o
amor antes de correr.
A vida é uma corrida feita de
passos. Quem anda não consegue chegar a tempo, quem corre demais cansa e para
no meio. Encontre o seu ritmo, sue bastante e saiba que existem pessoas que
estão do seu lado. Mas também saiba que a perna é sua, ninguém corre por você.
Mas eu não me permito parar de
correr, não paro de jeito nenhum. Se for chorar, choro correndo. Eu aprendi a
amar o trajeto e não a linha de chegada. E correndo eu vou, passo a passo,
consciente de que a vida é uma corrida e chega quem não para e não quem é mais
rápido. Vence quem, portando seu coração e seu pulmão, corta o vento com os
braços e quebra a parede de ar com as próprias pernas.
Assim como na corrida, tudo em
vida passa por um processo semelhante. Parece haver um consenso de que só o resultado
pelo esforço compensa nessa vida.
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