João Dória Jr e a importância de empreender

João Dória Jr e a minha narrativa de um diálogo de um empreendedor na Fiesp segundo a importância de empreender na Sociedade

I Prólogo

O empreendedor, como definição teórica, seria aquele que percebe as oportunidades de oferecer no mercado novos produtos, serviços e processos, e tem a coragem para assumir riscos e habilidades para inovar e aproveitar essas oportunidades, como assim ressalta Francisco Lacombe em seu Dicionário de Negócios. Mas, para entende-lo na sua prática, requerer-se-á uma abordagem um tanto mais sofisticada, pois, ao assumir-se como um, é necessário compreender as motivações que levaram-no a se tornar, e que, no âmago dessas motivações, reside a sua história: a de um ser humano capaz de ter superado as vicissitudes na vida e emergir a partir delas um indivíduo vitorioso, com atitudes reverenciáveis.

Ao ler e conhecer a história de um empreendedor, suas motivações são auto explicáveis e, portanto, a sua história pode ser ressaltada – nos comportamentos e atitudes tomadas por ele ao longo da vida, pelo menos – como um exemplo da importância não só do termo, mas do comportamento e da prática qual teve ao decorrer de sua jornada: a do empreendedorismo, da livre inciativa e do valor do trabalho.

João Doria Jr, então, pode – e deve – ser considerado como um desses exemplos. Graduado em jornalismo e publicidade, Doria Jr é um empresário, escritor e jornalista com uma história de exemplo, uma prova da sobrevivência do espírito humano diante dos infortúnios da vida. Hoje presidente do Grupo Doria, apresentador do Show Business – um dos mais antigos da televisão brasileira – além de liderar o LIDE, o Grupo de Líderes Empresariais “com mais de 400 empresas que, juntas, representam cerca de 40% do PIB privado nacional” como diz a matéria da Istoé Brasil, que o escolheu como uma das 100 personalidades mais influentes de 2012. Já atuou no setor público como presidente da Paulistur, da Embratur e do Conselho Nacional de Turismo. É hoje, também, presidente do conselho e acionista da Casa Cor, maior evento de arquitetura e decoração das américas.

II A história: motivação.

A história desse empreendedor é, como ele ressalta, a de alguém que acredita nos valores da vida. Parte dela, para ser compreendida, se inicia na trajetória de seu pai, o João Dória. Um imigrante baiano que se mudou para o Rio de Janeiro  na época o centro econômico do Brasil – para lutar por condições melhores de vida. Lá conseguiu um emprego no Correio da Manhã, no final da década de 40, e, com o suor do trabalho, foi garantido com promoções atrás de promoções, o alcance do objetivo para o qual tinha saído de sua terra natal. 

Certo dia, um importante publicitário de nome Cícero Leuenroth, ao ler os textos de João Dória, o pai, o convidou para conversar. Leuenroth era dono da maior agência de publicidade da época no Brasil. O Cícero convidou João pai para se tornar redator. Aceitando o convite, Dória pai começou como redator da Standard até se tornar Diretor num prazo de 6 anos. Com as conquistas, as condições de vida foram melhorando com salários consideráveis, algo que se apresentava com um certo grau de contraste diante da forma como ele, o pai, chegou no Rio: com quase nada e de ônibus.

Após crescer, sentiu a necessidade de se desvincular da Standard e criar a sua própria agência de publicidade. Ao sair, criou a Dória Associados (hoje nome de uma das empresas que João Dória Jr dirige em homenagem ao seu pai). Já fora da Standard, Doria Jr relata que seu pai não tirou nenhum cliente das mãos do Cícero pela postura ética que tinha como pessoa e consideração a seu agora amigo. Em 2 anos a agência conseguiu crescer absurdamente e em 4 a 5 anos já era uma das 3 maiores do Brasil.

Paralelo ao crescimento da agência de publicidade, seu pai decidiu iniciar a vida pública – um homem de ideias, sobretudo, pois foi de certa maneira por causa delas que construiu uma agência de publicidade (como a publicidade sobreviveria sem a ideia?) – influenciado pelas raízes familiares da educação cristã e do seu irmão, um juiz de direito, cuja postura era voltada para a prática da moral, para a real consciência dos direitos e deveres. Entretanto, seu pai, o João Dória, queria disputar o cargo eleitoral pelo seu Estado de origem, a Bahia, e não em São Paulo, onde naquele momento residia. Desejos à parte, ele foi eleito como o segundo mais votado na época, assumindo o mandato de 1962 a 1964.

Mandato curto, pois em 64, quando ocorrera o golpe militar, seu pai fora cassado, e já na primeira lista. Cassado foi porque denunciou à época a iminência do golpe militar. Tudo mudou: a agência que tinha 10 anos de existência, perdeu; os calçados Clark cujo qual fora sócio, deixou de ser; a residência do Morumbi qual morava, passou a inexistir; os carros, esvaíram; “coisas que o dinheiro proporciona e que quem chega lá deseja desfrutar, com bastante normalidade, por ter sucesso” explica João Dória Jr. Todos os bens foram perdidos porque seu pai apenas foi congruente com seus valores. O pai teve que se refugiar em uma das embaixadas ainda abertas, mas como a maioria se localizava no Rio de Janeiro, foi na da Iugoslávia, em Brasília, que buscou refúgio. Ali alocado, vivia num lugar pequeno com 8 pessoas, das quais entre ele estava Sebastião Nery, jornalista hoje na Rádio Metrópole aqui em Salvador.

Saindo do país como um exilado, foi para a França. A mãe de Dória Jr vendeu tudo que tinha e foi para o exílio com ele e seu irmão, o Raul. O dinheiro que tinha durou apenas 2 anos devido a uma custo alto de vida na França, e a liberdade era muito limitada, já que os exilados eram monitorados pelo SNI, o sistema nacional de informação, que tempos depois culminou na criação da ABIN, em 1990, com um propósito diferente da dos tempos de ditadura. O objetivo do órgão era investigar para não permitir que o exilado tivesse renda para não fazer da estrutura econômica de prosperidade no exílio um instrumento de movimento político de libertação no Brasil.  Para sobreviver, o pai precisou levar os quadros de artes que colecionou enquanto publicitário bem sucedido no período anterior à ditadura. Segundo Dória Jr, seu pai costumava dizer que ele comia os quadros para sobreviver.

Acabando o dinheiro, a sua mãe, ele (Doria Jr) e seu irmão foram obrigados a voltar para o Brasil para enfrentar uma vida totalmente diferente do período do qual desfrutavam anterior ao golpe de 64: antes estudavam no Colégio Rio Branco, após a volta precisou estudar no colégio público, a Escola Estadual Professora Marina Cintra – com exceção do irmão, que só conseguiu porque uma senhora conseguiu pleitear uma bolsa para o irmão –; precisando trabalhar para se sustentar, foi, ainda jovem,  assumir o cargo de Estagiário na Standard, empresa de publicidade em que seu pai um dia dirigiu, porque um Diretor egípcio da agência, sensibilizado pela história de Dória Jr, o cedeu uma vaga. Em 2 meses deixou de ser estagiário e garantiu seu primeiro emprego.

“Vocês não fazem ideia... Quem já passou por dificuldades sabe o que é precisar do emprego. Eu vivi isso: precisar do emprego (...). Precisava para poder ajudar minha mãe, para ter um pouco de oxigênio” expressa João diante da dificuldade em que viveu. A sua mãe fora educada para ser mãe. Segundo João, o filho, as mulheres eram habituadas a serem donas de casa e o máximo que faziam era um curso de letras ou de lareiras para ter proficiência nas tarefas do lar – não foram educadas com uma orientação para ser executivas, engenheiras etc.: “minha mãe foi jogada para poder garantir a sobrevivência da família” revela João. A mãe trabalhava no que podia. Chorava quase todos os dias por não conseguir proporcionar aos filhos uma condição mínima de sobrevivência.
“A dificuldade, meus amigos, é dura. Quem tem dificuldade ou quem já passou por isso ou viveu de perto sabe o que eu estou falando. É dificuldade para comer. Não é dificuldade pra ter luxo, é dificuldade para comer. Para ter o que comer. Pois eu vivi essa experiência com minha mãe. Em casa, quase todos os dias, a gente tinha arroz e ovo. Só. Não tinha carne ou sobremesa. Não tinha luxo nenhum. Nossa! Beber Coca-Cola, comer pudim, só na casa dos amigos. E quando convidava...”
Em meio as dificuldades, João se dava o direito de se divertir pelo menos uma vez por mês. E mesmo assim, nos lazeres, conviveu ainda com a dificuldade. Por adorar futebol, escolheu as partidas como um dos seus momento de lazer. Ia para o estádio caminhando porque não tinha dinheiro; ficava na geral e chegava às vezes com 4 horas de antecedência para ficar com um bom lugar. Só tinha um sanduíche para comer. Detalhe: um sanduíche com mortadela e um kisuco. Um grande contraste para quem anos antes desfrutava de muitas benesses.

O drama familiar era pior, por que sua mãe enfrentava o preconceito da família por ter se casado com um imigrante baiano. A família desejava que ela se casasse com um nobre, mas enquanto baiano prosperava, muito pouco a criticar, mas depois, quando cassado, tudo a desprezar: “nem sequer falavam com ela e no máximo, quando a via, era um breve cumprimento. Alguns ainda falavam ‘tá vendo! Não falei pra você!? Foi casar com esse baiano aí safado e sem vergonha’, olha aí o que aconteceu. Foi cassado, [e você] não tá lá, tá é aqui; não tem dinheiro, tem dois filhos pra criar. [Te] falei, preveni...” relata João com pena da situação de sua mãe. Em meio a dificuldade, Dória Jr a prometeu que um dia estaria trabalhando, sustentando e não a deixando chorar mais.

Ele não conseguiu. A mãe morreu antes. Morreu com 36 anos de idade acometida por uma crise de meningite. “Eu não tive nem a chance de dar a minha mãe aquilo que tinha estabelecido como princípio de vida, que era poder trabalhar pra sustenta-la e não vê-la mais chorando em casa” lamenta João que informou que nos últimos anos de vida sua mãe só tinha uma única amiga, aquela que estendia a mão. A única. Ninguém queria ser amiga de uma esposa de um deputado cassado.

Depois da perda da mãe, seu pai pôde retornar em 74, vindo também em condição de dificuldade. Com 50 anos e ainda com vontade, voltou a trabalhar. Com poucos amigos após a volta   como deputado cassado poucos também gostavam de estar ao seu lado, temendo que o SNI também os investigasse – teve em Adolfo alguém que o apoiou, um exemplo de amizade, de acordo com Dória Jr. Um exemplo de pessoa solidária, diferente de muitas que se afastam e temem exatamente quando as pessoas mais precisam de apoio e solidariedade em determinado momento.

João Dória Jr levou consigo a história de pesar de sua mãe e fez uma nova promessa: “pai, eu vou trabalhar 24 horas e não vou te deixar sofrendo mais do que você já sofreu”. Foi o estopim. Foi a motivação suficiente para continuar persistindo com direção e foco em torno do objetivo que traçou. Se dedicou na Standard com 13 anos de idade; trabalhava na hora do almoço para ter que comer um sanduíche que a empresa cedia para quem trabalhasse neste período, pegava 2 ônibus para chegar no escritório, dois para ir para à escola e dois para a casa. Foi da Standard para a rede Tupi como assistente de contato e vendendo, recebendo uma comissão aqui e outra lá e conquistando confiança em si e no projeto que foi ganhando a educação prática necessária para sair da situação que pairava. Saiu de assistente de contato para contato, depois supervisor, gerente comercial e gerente de projetos. Com 21 anos foi presidente da Paulistur, sendo nomeado pelo então Prefeito Mário Covas. Já com 21, um experiente. Depois, com 24, foi presidente da Embratur.

Nessa trajetória contínua, preside hoje o LIDE, o Grupo de Líderes Empresariais com mais de 1.200 empresas, e um conselho diretor renomado, operando em 8 estados, fundada em 2003 com missão de “defesa da livre iniciativa, dos princípios éticos da governança corporativa no Brasil, tanto no setor público quanto no privado”.


As empresas de João são muito importantes na promoção de eventos e workshops que viabilizam o diálogo e a troca de informações, reforçando os valores do empresariado, da governança corporativa dentro do setor privado e público. Lá líderes discutem diretrizes. Muitos negócios são firmados dentro desse espaço. Não foi por mera coincidência que por sua sagacidade em liderar uma instituição como essa que ele assumiu a posição de uma das pessoas mais influentes do país. Existe um valor no LIDE, que é possibilitar que valores sejam reforçados e as empresas entreguem bons serviços e produtos para o usuário final de seus serviços, o cliente.

III Posfácio: os valores

Como todo ser humano, Dória Jr aprendeu através das suas experiências de mundo a toma-las como relevantes e transformá-las em objeto de conhecimento e motivação. Buscou na história que vivenciou o subsídio para a sua sobrevivência. Suas experiências vieram das pessoas, do trabalho, da motivação através da sua história quando assim determinou para si um objetivo.

Se motivou tendo como gatilho a situação do pai, assim como Pelé viu o seu pai chorar em 1950 quando o Brasil perdeu para o Uruguai na final da copa do mundo e mais tarde foi campeão em 58, sendo considerado hoje o melhor jogador que já existiu no futebol; como assim também foi com Roberto Marinho ao ver seu pai Irineu morrer 23 dias após o lançamento da primeira edição do jornal O Globo, que fora publicada com 159 dias de existência depois da chegada de Irineu da Europa, onde lá foi para se tratar de uma doença e descobriu que fora traído por seus sócios na obscura venda do jornal A Noite. Foi Marinho, presenciando com seus 24 anos de vida as traições – e talvez por isso se justifique a Globo nunca ter aberto seu capital – e fatos da época, segundo Pedro Bial na biografia de título homônimo, que ele assumiu um jornal prematuramente e dali fez surgir anos mais tarde a terceira maior rede midiática do mundo e a maior que já existiu no Brasil.
 “O dinheiro nunca vai mover você para os seus ideais de vida. Nunca. Se tiver movendo, fuja disso. O que vai mover na vida é a sua vontade de fazer, de realizar, de fazer, de ser feliz e de fazer as pessoas serem felizes também. Isso é que vai fazer a diferença. É o prazer de realizar. O resultado material é consequência. Todo empreendedor, todos os que conheci até hoje – sejam atletas, professores, empresários, seja alguém que ama vender coco na praia – se tornou vitorioso porque acreditou na vida, na sua existência, na sua capacidade realizar e sua capacidade de transformação. Não foi o cheque, não foi o dinheiro, nem a conta bancária. Dinheiro não compra a felicidade. Conheci muitas pessoas ricas que são muito infelizes e são desrespeitosas. Xingam, machucam, humilham. Essas pessoas não sabem dar valor à vida. Enquanto já conheci pessoas que dirigem um táxi e são realizadas e ganham uma ótima renda com o trabalho. A vida é muito mais que o dinheiro.” – João Dória Jr.
Dória aprendeu durante o exercício laboral a respeitar as pessoas, o trabalho e que nunca imagina que é possível vencer sozinho. Lembra que é preciso ter a consciência que sempre existe alguém do seu lado tentando te ajudar e que é necessário sempre ajudar alguém. “A lição da solidariedade é a lição de que o trabalho coletivo é muito melhor do que o individual” explica João. A lição da humildade também foi outro valor aprendido e ressaltado como um item fundamental para uma auto análise mais condizente com a realidade, aliás, o principal elemento necessário para se ter o distanciamento necessário para realiza-la.

Como Sidney, que hoje é formado, professor e passou por muitas dificuldades, a auto consagração de João Dória Jr serve como um reflexo do árduo trabalho que também se reproduz nas histórias de tantos outros empreendedores. A vida é, em seu mais profundo núcleo, a realização da felicidade baseada nas virtudes da história de cada ser humano embutido num contexto. A de Dória foi, ao seu modo, um exemplo que precisa ser levado para todos que negam a importância do empreendedorismo. É a história de que a consagração só vem com suor, de que alguém, como o seu pai, que veio da Bahia, enfrentou os preconceitos, mas venceu; e como ele, o Dória Jr, quem viveu dificuldades e soube nelas encontrar uma saída honesta, porque seus valores foram no geral o alicerce da razão do seu sucesso. É como disse Dom Bertrand de Orleans e Bragança ao citar seu pai quando chamou os filhos mais velhos no canto do jardim de uma fazenda no Paraná, que comprou por ter vendido uma casa cedida por um português rico, pois nada lhe sobrou, pois os bens da família real foram confiscados durante a instauração da república: 
“meus filhos, saibam aproveitar a única coisa que eu poderei os deixar para o futuro, porque bens materiais eu não tenho. 63 alqueires [da fazenda] divididos por 12 filhos não é nada. Com isso vocês não farão a vida. Mas eu tenho algo que vale incomparavelmente mais que os bens materiais, e isso eu posso lhes deixar, que é em primeiro lugar a fé católica, em segundo lugar uma boa educação e em terceiro lugar a consciência de uma missão histórica a ser realizada pelo bem desse grande país, desse grande Brasil. Preparem-se por que um dia o Brasil os chamará”.
Assim como para Dom Bertrand, como o João Dória Jr, o Pelé, Sena, Sidney e outros, o pilar da vida, do sucesso, se estabelece da mesma maneira que o discurso do pai de Dom Bertrand: um bom sistema de valores, uma boa educação e uma missão motivadora auto imposta. É o que há em comum em todos os vencedores, variando apenas o conteúdo, mas não a forma. Acima de tudo, em grande maioria são orgulhosos, mas nunca arrogantes:
 “As pessoas arrogantes nunca acham que estão erradas. Essas não são pessoas felizes e nem serão pessoas bem sucedidas, pois, quando menos esperarem, irão fracassar ou irá faltar a mão a amiga. Por que elas foram tão autoritárias, tão duras, tão arrogantes, incisivas e mal criadas que, no momento que teve aquela mão querendo-a ajudar, irá faltar, quando a ajuda um dia precisar. A humildade é o compartilhamento, é o reconhecimento [dos erros e limitações] e o ato de pedir desculpas [sem se degradar]”.
A tolerância é outro valor considerado preponderante no seu sucesso não só como profissional, mas como indivíduo. Ressalta ele, João Dória Jr, que se alguém não for tolerante, vai sofrer muito, pois a compreensão do contraditório é parte da vida em sociedade. Não só ter tolerância, mas também a prudência é um elemento primordial: saber o tempo certo para agir, ser comedido, cauteloso. Não tomar atitudes bruscas, rápidas, imediatas, enérgicas e emotivas, sob o risco de se arrepender depois.

O valor do trabalho construiu a carreira de João Dória Jr e tem nesse valor o fundamento de sua existência: o sucesso profissional de um indivíduo como resultado de uma contribuição coletiva reconhecida a todo momento por ele e que aqueles a quem confiou – e aqueles a quem ele foi confiado – também cresceram. A história do indivíduo que prova que o pronome nós existe até no eu, pois reside ao lado dele a história de outros indivíduos que diretamente influenciaram em sua trajetória. Esse valor do trabalho que o construiu não é particular dele, mas de muitos. A sociedade é então o resultado do trabalho árduo alicerçado em uma ideia e um conhecimento organizado por indivíduos motivados em seus objetivos.  

O valor do trabalho é incentivado a todo o momento para os filhos que ainda menores iniciam em ritmo menor, mas os fazem trabalhar para deixar claro que eles, mesmo na situação que estão não são herdeiros mas sucessores do trabalho do pai: “é ter a sustentação da vida nos mesmos valores que aprendi com dificuldade. Que não passe pelas dificuldades, mas que tenha a consciência desses valores. Tomar noção da realidade da conquista, pois é isso o que faz a diferença entre as pessoas”.

IV Epílogo


As empresas de João Dória Jr, caso não foi percebido, são o reflexo de seus valores. Uma empresa é o reflexo da mente que a criou em sua mais íntima esfera. Se os valores são bons, a empresa sobrevive, caso não, padece. É por isso que o lucro de uma empresa, o dinheiro derivado da venda de um serviço ou produto deduzido de seus custos, é o que legitima a sua existência, porque permite a sua perpetuação no mercado, mas nunca é a sua finalidade última e maior. A sua finalidade é  uma que Drucker já ensinou há muito tempo no passado  criar e servir bem a um cliente. 

Mas teimam os contrários à livre iniciativa que a história de João como a de tantos outros empreendedores não podem servir de exemplo pois são esparsas, exceções. Jamais serão. Elas são o retrato da sociedade. Elas são a prova de que o triunfo da vida individual vem conjugando o “nós”, de que a ética, acima de tudo, é um valor que coloca a sociedade civilizada em um patamar superior, de que a felicidade é um tipo realização individual em coletividade.

O empreendimento, portanto, está apoiado numa história que reside nos valores concebido pelas pessoas, aliadas a sua educação e motivação - que nesta reside a história de vida. Se a sociedade está do jeito ruim que está é porque há pouca, ou falta, tolerância e prudência, bem como falta a promoção do valor do trabalho, da livre inciativa, como um dos fundamentos da liberdade, do progresso. 

A sociedade é uma construção de realizações individuais na coletividade e não da centralização do poder coletivo na individualidade formal-burocrática de um órgão público, atribuindo a este a responsabilidade por comandar a vida alheia.


Que indivíduos como João Dória Jr, Sidney, Roberto Marinho e outros existam, por que é do triunfo deles que a sociedade progride, do triunfo dos empreendedores nos seus diversos campos. Alguns conhecidos, outros não, muitos sua existência é conhecida, mas sua história obscura, todavia, não há nada que caiba tão bem e que expresse o quanto a prosperidade do mundo é o resultado da união dos valores de indivíduos bem educados e com uma motivação poderosa quanto a afirmação de George Eliot em Middlemarch: 

"(...) o crescente bem do mundo depende parcialmente de atos não históricos; e se as coisas não são tão ruins para você e para mim quanto poderiam ter sido, deve-se em parte aos tantos que viveram fielmente uma vida oculta e hoje descansam em túmulos não visitados."
Fortunat Favet Fortibus.

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